sábado, 26 de novembro de 2011

Desafios

Apesar do pouco tempo com a perna direita imobilizada, tem sido um baita desafio para mim esta situação. Agitado como sou, com movimentos de locomoção reduzidos ao mínimo possível, o desafio está em controlar a cabeça e não começar a pensar em bobagens muito além da conta. Não posso nem ficar de barriga para baixo na cama, que é minha posição preferida de leitura, pois forçaria o joelho para o lado oposto. Desta forma, tenho que ler sentado na minha cadeira do escritório, com a perna direita apoiada no chão mas sem dobrá-la. Não á posição mais confortável do mundo.

Mais do que isto, vem a lição. Para mim, tudo que acontece comigo ou com os outros tem uma lição a ser aprendida. Não porque acredite em qualquer entidade superior que nos ensine através de nossas trapalhadas, mas porque é assim que conseguimos o equilibnrio estatístico da vida. SE só fizessemos besterias, já estaríamos extintos. Se não estamos, é porque uma coisa nos diferencia dos animais inferiores: nossa capacidade de aprender e absorver informações indiretas e subliminares relacionadas aos nossos atos. Estatística e neurociência. Nada mais do que isto.

A consciência nos diferencia dos demais e é justamente esta parte do nosso cérebro, ainda tão pouco desenvolvida, que nos fornece as respostas para as coisas que acontecem em nossa volta. Por que ainda pouco desenvolvida ? Porque ela ainda apresenta defeitos de funcionamento. Esta questão de encontrar relações, causas, efeitos, motivos é algo ainda um pouco incontrolável e por isto, nosso cérebro, com somente 200.000 anos ou menos, ainda não conseguiu diferenciar o que faz sentido do que não faz. Tentamos achar um sentido, uma lógica, uma correlação em tudo a nossa volta. E nosso cérebro trabalha para isto e nos leva portanto a ligar fatos que, de fato, não possuem relação. Em estatística chamamos isto de correlação espúria e já falei deste fenômeno em outros posts.

Não conseguimos evitar e nosso cérebro não consegue trabalhar de outra forma. Portanto, temos uma parte incontrolável da nossa psiqué que age contra a natureza das coisas, tentando dar sentido à fatos aleatórios. Esta é uma discussão longa e podemos chegar até a questões como a existência de Deus, o amor dos pais ou mesmo nossa necessidade de aprovação frente aos outros. Mas não é este o objetivo aqui.

Minha lição por estar semi-imobilizado é que não existe a menor possiblidade de eu reclamar da minha vida quando eu estava com as duas pernas em perfeito estado de funcionamento. Sim, o joelho arrebentado ia me gerar problemas maiores no futuro e por isto eu operei, mas fico imaginando as pessoas que por qualquer motivo nascem ou não podem usar suas funções motoras completamente. É um inferno. Até ir ao banheiro torna-se um ato de extremo cansaço e bravura. Apóia de um lado, senta torto, levanta com uma perna somente e cuidado para não escorregar no piso molhado, pois com uma perna só, se perder o equilibrio já era.

Tudo funciona bem em mim e na minha família e tenho que ficar muito feliz por isto, pois estatisticamente, zero defeitos em um grupo limitado de seres humanos geração após geração é algo pouco provável. Faz parte da nossa evolução, do nosso desenvolvimento e de nossa capacidade de adaptação ao mundo as reações esquisitas que acontecem com nosso corpo ao longo da vida. Ou algúem tem dúvida que a maioria das doenças do mundo moderno é causada por nós mesmos ? Pela nossa alimentação, procrastinção e relutância em evitar o que já é provado que faz mal como bebidas alcóolicas e cigarro.

Mas como se explica então a morte de Steve Jobs, um vegetariano convicto que morreu de câncer de pâncreas ? Nunca disse que ser vegetariano resolve tudo, mas aparentemente, quando o somos, resolvemos o problema da digestão, mas causamos outros relacionados à falta de nutrientes que nos mantém vivos. Pode ser isto ? Claro. Mas não sei ao certo. Alguém sabe ? Duvido.

Desta forma, uma maneira de evitar que a estatística se volte contra você é seguir minimamente os ensinamentos que seu cérebro te ajuda a configurar. Talvez ele esteja inconscientemente te protegendo de algo que está poir vir, mas não existem provas ainda, pois como dito acima, pode não ser nada, um alarme falso.

Que nosso cérebro processa muito mais informações inconscientes do que conscientes, imagino que não seja novidade para ninguém. Só temos acesso a uma pequena parte da nossa capacidade cognitiva e nosso lobo frontal, o que nos diferencia dos macacos, tem no máximo 80.000 anos o que é nada, se comparado à vida na Terra.

Isto inclusive explica a imbecilidade dos seres huimanos que se auto-intitulam racionais. Nosso lobo frontal não permite que sejamos racionais por completo.

Somos racionais desde nossa criação mas a intersecação entre racionalidade, sentimentos e imaginação é feita integralmente quase pelo lobo frontal, que é ainda bebê em termos evolucionários.

Indo na direção ao que me interessa, é claro que o mercado financeiro não funciona direito afinal, muitas das decisões são tomadas de forma não-racional. É incrível que só em 2001 Daniel Kahneman e Tversky ganharam o Nobel sobre a não-racionalidade das decisões. Demorou muito. O mostra como somos limitados nesta parte do conhecimento.

A teoria econômica que contempla a relação entre as partes, como a teoria dos jogos, tem muito ainda a se desenvolver. Em nenhum modelo que eu conheça, pelo menos, as emoções sã

o levadas em consideração. Todos os modelos são uma simplificação muitas vezes tosca da realidade e claro, que com o tempo, ela se prova errada. Mas o que esperavam ? Afinal não dá para medir o efeito das emoções nas decisões. OK, entendo e concordo. E a solução então é tirá-la da equação ? Como se não existisse. Isto eu não concordo.

Li uma frase uma vez que dizia que a racionalidade nos fez chegar até onde estamos e o todo o resto relacionado ao lobo frontal, evitou que não fôssemos engolidos por nós mesmos. Interessante. Lembro desta frase e a imagem que me vem a cabeça é de Saturno devorando seus filhos, um quadro de Francisco de Goya, pertencente a coleção Pinturas Negras.

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