Ontem, como fazemos de tempos em tempos colocamos alguns potenciais estagiários em nossa sala de reunião para uma avaliação. Fazemos isto há alguns anos, de forma geral 2x por ano.
Nosso método, evoluído constantemente ao longodso últimos 8 anos de empresa e ainda precisando melhorar muito, consiste em uma primeira fase analisar se o candidato tem o mínimo necessário para ser uma ser humano empregável. O que seria isto ? Saber escrever com uma certa fluência e sem erros crassos de português (visto o que somos), saber expressar suas idéias, quais sejam elas, com clareza, ter lido o jornal, afinal ler jornal é obrigatório e mínimo, e mostrar um pouco do que pensa.
O que me chama atenção é uma pergunta que fazemos ao candidato: se ele tivesse todo o dinheiro disponível para fazer o que quisesse, o que ele faria ?
Menos pelo que ele escolhe e mais por como ele decide, as respostas por incrível que pareça circundam sempre um tema: uma casa de veraneio para passar as férias e ter lazer com a minha família e amigos.
É interessante o fato de que para uma pessoa jovem, que ainda está na faculdade, e começando sua vida de adulto, este seja um dos três itens que gostaria de fazer, ou ter caso tivesse TODO o dinheiro que pudese ter, sem limite.
Não me parece razoável que uma pessoa que nunca ganhou dinheiro suficiente para se sustentar ou mesmo para sustentar minimamente seus gastos e nível de vida possa de antemão pensar em lazer, férias e casa no campo. Desde que começamos a fazer esta pergunta as respostas circundam este tema. Minha incapacidade de pensar em lazer antes das obrigações cumpridas não me deixam chegar a psiqué destes estudantes.
Afinal, o que eles querem ? É a pergunta que faço. Trabalhar até morrer ou conseguir o que quero certamente não é uma opção para eles, como era para muitas pessoas da minha geração e para mim. Claro que o até morrer é um eufemismo que diz mais sobre quem você é do que o que de fato quer ser da vida. Afinal, quem está disposto, com todas as forças, a construir algo, ser alguém e fazer um legado, por menor que seja, mas com seu nome impresso nele, tem uma certa dificuldade em pensar em veraneio, férias e lazer.
É interessante também as respostas referentes a como seria uma empresa ótima para se trabalhar. Todos eles, consistentemente escrevem que seria uma empresa que pagasse bem seus funcionários, os valorizasse pelo seu trabalho e dedicação a empresa e pudesse pagar bons bônus.
Eu fui forjado em um universo onde o bônus é pago para quem é fora do normal. Acima da média em termos de capacidade de decisão, ritmo de trabalho e dedicação. E se compararmos esta resposta com a outra pergunta, não é difícil de concluir que alguém que nunca construiu nada na vida e nem se sustenta, se já está precoupado com a valorização do seu trabalho, reconhecimento moral e financeiro, lazer e as férias, certamente terá um problema nos quesitos dedicação e desempenho. Afinal no começo, ninguém te reconhece por nada porque, em poucas palavras, você de fato não vale nada.
Talvez eu esteja obtuso ou radical demais, mas sinto falta de caras maníacos, competitivos e alucinados por construir, criar e ser algo. Uma parte integrante da teia social são estas pessoas que fazem diferença, que vão atrás a qualquer custo e fazem as coisas acontecerem. Quando o Estado/Empresa dá demais, fica fácil ser médio, acomodado.
Sim, a qualidade de vida. É o que os europeus conseguiram. França, Espanha, Itália e Portugal isto sem considerar os países nórdicos, possuem uma qualidade de vida fenomenal. E morna para quem é maníaco. Este modelo social está entrando em colapso pelo que se percebe. Quanto mais direitos se dão, mais difíceis são as mudanças para adequá-los depois ao ambiente real e mutável que vivemos.
Posso até dizer que é algo meio anti-econômico, pois crises são cíclicas, acontecem de tempos em tempos e cada vez com mais frequência. Se quando está tudo bem, dá-se demais. Como tiramos quando o ciclo vira-se contra nós ?
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