domingo, 23 de outubro de 2011

FILME: O Candidato

Assisti hoje a um filme muito interessante. Daquela época quando os filmes, para serem feitos, precisavam ter algum objetivo, um roteiro e uma estória que fosse minimamente provocativa ou crível. Feito um pouco antes de eu nascer, o filme "O Candidato", com Robert Redford nos tempos aureos, é um filmaço.

Comparo esta película àquele outro, também de terma político, sobre o caso Watergate, juntamente com Dustion Hoffman, "Todos os Homens do Presidente", que é uma obra prima. Este filme certamente não teve esta missão de ser algo fatal sobre e mordaz sobre o caso que tirou Nixon do poder em 1974, mas ainda sim, toca em um tema muito interessante: a construção de um candidato pela mídia e pelos assessores, preocupados sempre em qual será a próxima eleição, e quem será seu próximo empregador.

Nada relacionado com o que o povo deseja ou as melhores práticas políticas para que os objetivos de longo prazo sejam atingidos. Nada disto. Cada campanha, cada eleição é um jogo rápido que precisa ser vencido. Muito trabalho em pouco tempo. Se para isto, os abutres precisam descaracterizar um homem, transformá-lo no que o povo quer que ele seja, sem problema. Afinal, depois que ele ganhar a eleição quem vai sentar lá, assinar o papéis, defender os pontos de campanha e se responsabilizar por eles é o objeto, não o sujeito.

O filme começa com Robert Redford no papel de Bill McKay, filho de ex-governador que, apesar de não falar em nenhum momento, não gosta dos métodos do pai de fazer política. É um cara com uma ideologia clara e que fala aquilo que pensa. Algo muito idolatrado para os americanos, mas que na prática, quando se está querendo vencer uma eleição, pode causar muitos problemas. É mais ou menos como um Ciro Gomes americano.

Ao longo do filme, vemos o esforço de seu caráter tentando direcionar os discursos, as imagens e aparições públicas. Tudo em vão. Os marketeiros manipiulam imagens, cortam frases e aplicam falas fora do contexto para parecer melhor do que era. Impressionantemente verdadeiro.

No final, o cara acaba cedendo, faz o jogo e ganha a eleição. Tenta não parecer tão fantoche e no último debate com seu oponente, um fantoche velho de guerra, até persiste na tentativa de discutir assuntos mais pertinentes, mas não é levado a sério. A última cena do filme é ele virando para o marketeiro dele e dizendo "ganhei. E agora, o que eu faço ?"

Sim, termina assim. Afinal, a figura que ganhou a eleição acabou distanciando-se da persona que a iniciou. E quem vai sentar no Senado afinal, o produto do marketing ou sua gênese humana ? Brilhante como na política cria-se uma falsa pele que envolve não só a imagem da pessoa, mas toda sua linha de valores, caráter e percepção de certo e errado. Falando deste jeito, lembrei de um outro filme do gênero, com Sean Penn, fenomenal chamado "All night´s men" ou "A Grande Ilusão", uma obra-prima da política.

Robert Redford é famoso pelo seu engajamento político. Sua última atuação foi em Leões e Cordeiros, onde atou juntamente com Tom Cruise, Merryl Strep e o iniciante (naquela época) Andrew Garfield. Por sinal, as melhores cenas do filme são as dicussões entre Andrew, um aluno mordaz, inteligente e cheio de opinião com seu professor Redford. Vale o filme.

Para quem não lembra quem este garoto é, ele interepretou o brasileiro fundador do Facebook Eduardo Saverin, no filme A Rede Social; e será o novo homem-aranha, que será lançado no cinema em breve. Um ótimo ator.

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