Há um pouco mais de 10 anos me juntei a algumas pessoa do segmento de informática e marketing para fazer uma empresa de internet. Eram pessoas geniais e um deles, meu amigo pessoal. Eram outros tempos, eu era outra pessoa e a Nova Economia despontava como sendo a mais nova onda a se pegar.
Eu sempre gostei muito deste meu amigo. Alguns anos mais velho do que eu, posso chamá-lo de quase gênio, pois sua habilidade em ciências exatas era fenomenal. Nos conhecemos inclusive durante o colegial quando me dava aulas de física. Não que eu seja um completo idiota em física, mas para ele era tão fácil entender a dinâmica das polias, velocidades, pesos e dinâmicas dos materiais que somente tendo a aula com ele me deixava fascinado. Não era tanto o que sabia, mas o que ele entendia que me fascinava. Acabamos ficando amigos e desta amizade, depois de mais de 10 anos, surgiu esta oportunidade.
Seus amigos entretanto, muito inteligentes também, não eram para mim tão legais como ele. Aos cinco minutos do primeiro tempo e muito pouco esforço envolvido no processo a relação dos 4 pseudo-sócios acabou azedando e ele foi a minha casa para dizer que tinham decidido que eu não estaria mais no grupo. Ele foi muito gentil e fez isto de uma forma muito bacana, descaracterizando a questão pessoal desta demissão do cargo de sócio, se assim posso dizer. E nossa amizade continuou.
Naquela época eu era uma pessoa diferente do que sou hoje. Muito mais insegura quanto as minhas capacidades e por isto, mais reativa e agressiva quanto aos meus pontos de vista. Fui colocado na equipe pela minha capacidade de implementação, algo que desde jovem já se mostrava diferente das outras pessoas. Mas naquela época, esta minha capacidade ficava escondida atrás de um temperamento irrascivel, intolerante, crítico e de certa forma, bastante agressivo. Era mais difícil conviver comigo. Sei que não sou uma boa companhia quando estou preso e sem opções e naquele começo de vida, eu estava meio que neste ambiente, de extrema provação pessoal. E o que todos tinham a ver com isto ? Nada, mas tomavam mesmo assim.
Desta forma, a decisão deles que para mim não foi nada agradável, pois não estava acostumado a perder, acabou sendo uma lição um pouco dura sobre os efeitos do nosso temperamento em um mundo que não perdoa. Meu amigo teve que ceder aos outros sócios e me tirou do jogo. Fiquei triste, do meu jeito, introspectivo, pensando em como fiz aquilo e como cheguei àquele ponto. Cresci certamente, mas ficou uma marca na minha alma, pois se já não esqueço quase nada que acontece com os outros que me rodeiam, imagine as coisas que acontecem comigo. Lembro dos detalhes da conversa, dos motivos, das pessoas e seus temperamentos, minha reação e minha frustração na época como se fosse hoje.
Os anos passaram, montei minha empresa e começamos a trabalhar. Outros sócios, outras histórias e um temperamento irrascivel ainda, mas já solapado por um golpe tomado alguns anos antes. Se a carne amolece por meio de marteladas, a alma a faz pelas nossas experiências em vida. E a minha, estava em processo.
Por uma coincidência, o negócio deles de onde fui expelido também não deu certo. Mas isto é uma outra história. O ponto é que os três remanescentes ainda tinham seu negócio principal e estavam desenvolvendo um sistema fenomenal, que na minha visão, poderia mudar o mercado. Era o começo da minha empresa e apesar de não gostarem do meu temperamento se renderam à minha capacidade de analisar e implementar novos negócios e nos contrataram para estudar a viabilidade deste novo sistema, captar potenciais investidores e dar uma visão e embalagem de empresa para ele. Uma forma pomposa de dizer que fomos contratados para fazer um plano de negócio, uma estimativa de valor futuro para aquilo e passar estas informações para investidores potenciais.
Fizemos e ficou muito bem feito. Mas a inépcia dos sócios da empresa em lidar com negociação, finanças e captação de recursos era de fato muito grande. Não que isto seja uma crítica, pois o talento deles para o produto que desenvolveram eram espetacular. Mas faltava uma ponte para o mercado. Algo que eu sabia fazer muito bem.
No final de alguns meses e depois de algumas reuniões fracassadas com investidores; algumas por culpa deles e sua inabilidade e outras, a maioria, pela incompetência dos investidores de empresas no Brasil que na grande maioria das vezes sabem menos do que os próprios donos do dinheiro dados a eles para investir.
Era uma época difícil para minha empresa também, que estava no começo e muito a se provar. Mas o resultado foi bastante interessante e todos ficaram contentes em saber que aquele produto tinha potencial de virar um negócio por si só, explorando modelos de receita recorrente e não somente de venda de caixinhas para serem instaladas. A criação de regas de funcionamento, função de cada modelo de negócio dos clientes, fazia com que a receita recorrente pelo uso fosse cada vez mais incrementada também por trabalhos de consultoria. Em suma, na minha visão, o produto era certo para o momento da economia que estávamos e se fosse um investidor teria colocado dinheiro ali sem pestanejar e feito as mudanças necessárias de dentro para fora.
Esta empresa deu certo. 10 anos depois ela fatura por volta de R$ 30 MM por ano e tem uma carteira de clientes invejável. Os sócios, mesmo aos trancos e barrancos, com brigas, desentendimentos e doenças ao longo do caminho construíram um negócio de sucesso e com um futuro promissor ..... se eles não fossem diferentes e que esta diferença não ficasse cada dia mais evidente conforme iam ganhando dinheiro.
O dinheiro dá liberdade de pensamento e ação. Liberta a alma das amarras de se fazer por obrigação. Todas as obrigações, desde a criação dos filhos, até ter um carro melhor passando por até trabalhar menos afinal, o dinheiro também permite que haja uma liberdade temprária enquanto ele existir. E esta liberdade recreduce dentro de cada um de uma maneira diferente, mas em todas, mostrando na maioria das vezes quem realmente somos.
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