quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fim do primeiro modulo e outros pensamentos

Estah chegando ao fim uma das viagens mais longas que ja fiz na minha vida. Tirando o tempo em Portugal e em Chicago, esta eh a viagem mais longa onde mais tempo fiquei fora de casa e do meu trabalho. Sinceramente, achei que ia doer mais. Com esta coisa de tecnologia de comunicacao super avancada nao existem mais distancias intransponiveis, entretanto. Falo com as pessoas pelo Skype como se estivessem ao meu lado, ate com imagem.

Sem querer desqualificar o tempo que passei aqui, esta nao limitacao quanto ao acesso as pessoas eh algo que tira um pouco o aprendizado que poderia ter sobre a distancia de fato. Na pratica nao estou nada distante do meu trabalho ou da minha familia pois os vejo, falo com eles por email ou voz e sei de tudo que esta acontecendo. Ou pelo menos, tudo que eh minimamente importante. E isto impacta bastante minha percepcao de distancia.

O que perdemos eh a convivencia. O dia-a-dia perto, olhando, ouvindo e opinando. Perdemos a sensibilidade das percepcoes subjetivas que nos ajudam tanto a tomar decisoes mais ou menos acertadas. Eh mais facil ser racional e frio nao estando no dia-a-dia, nao estando envolvido com o que esta acontecendo a cada minuto. A pergunta eh se isto e bom ou ruim ? E a resposta, como deveria ser mesmo, eh que para algumas coisas eh otimo ter um pouco de distancia mas para outras nao eh bom.

Para o trabalho eh bom, pois pude mesmo estando longe, ver a engrenagem funcionando e olhar de fora, nao tomar partido quando nao queria e opinar quando achei que deveria. Resolvemos conflitos as vezes somente nao fazendo nada. De longe, aprendemos a inteligencia do silencio, a sabedoria da leitura e a paciencia do tempo. Eh mais facil darmos mais prazo para as coisas serem resolvidas e algumas vezes, este prazo eh o suficiente para que algumas questoes se resolvam por si so. E isto eh otimo !

Nao sei se este efeito seria o mesmo se ao inves de 1 mes ficasse 6 meses fora. Se o plano era ver como a estrutura funciona nao estando la, tambem devo lembrar da nossa extrema adaptabilidade a qualquer situacao, por pior ou melhor que ela seja. Nunca tinha ficado tanto tempo assim longe da minha empresa e por isto, apesar do medo antes de vir, o que tenho a dizer eh que foi uma das melhores coisas que poderia ter feito. Tenho pensado muito sobre nosso negocio e como melhora-lo e so consegui isto devido ao distanciamento dos problemas do dia-a-dia.

De outro lado, agora nao tao bom assim, existe a questao da familia. Em familia o excesso de racionalidade soh causa mais problemas e um inevitavel distanciamento. Tenho alguns pensamentos sobre isto que vao mudando de tempos em tempos, mas um deles tem persistido ao longo dos ultimos anos: nao somos animais familiares. Somos nomades por natureza e o conservadorismo e a falta de adrenalina que a estrutura familiar gera em nos, seres humanos, eh um total corta tesao. Claro que existem beneficios. Inumeros. Incontaveis. Um deles eh a importancia de um lar organizado e equilibrado para nossos filhos.

Por outro lado, eh facil perceber que o amor e a dependencia afeitva nao eh um laco tao forte assim. Apesar da descarga hormonal que isto gera no corpo humano, depois de um tempo estando sozinho, o sentimento pelas pessoas vai se esvaindo, aos poucos, mas vai. Como se nossa memoria nao tivesse sido estruturada para este tipo de permanencia. A permanencia emotiva, se levarmos em conta a teoria da evolucao, deve ser algo que nos consome por dentro devastando todas as outras capacidades que podemos desenvolver. Tornamo-nos uni-vetoriais, pois o amor consome todas as energias que usamos para as outras coisas da vida. Por isto, imagino que por uma questao de adaptacao ao meio, da sobrevivencia do mais apto, nosso cerebro parece que faz questao de bloquear aos poucos nossas memorias afetivas, protegendo-nos da descarga hormonal e do sofrimento que este tipo de pensamento recorrente pode gerar. Eh como se desenvolvessemos uma doenca auto-imune, que nos protege aos inves de nos matar.

Quando dizem que "o que os olhos nao veem, o coracao nao sente", na pratica, eh exatamente isto que estou falando. Apesar de saber que eh a convivencia diaria, muitas vezes forcada, a maior culpada da destruicao dos casamentos, tenho que admitir que eh esta mesma convivencia que o faz perdurar; por mais paradoxal que isto possa parecer. A familia eh o cerne de nossas idiossincrasias mais profundas, pois ela confunde ao mesmo tempo que explica muitas situacoes da nossa vida. Temos sucesso por termos uma familia estavel, mas uma familia muito estavel impede que assumamos riscos e no limite, nao tenhamos sucesso, por exemplo. 

A diferenca entre um remedio ou um veneno muitas vezes eh somente a dose. E familia se encaixa perfeitamente neste paradoxo. Queremos ter, mas nao queremos ser consumidos por ela. Eh como se diariamente nos submetessemos a classica pergunta da Esfinge, "decifra-me, ou te devoro", e por isto, ficamos sempre no limite entre sermos absorvidos pelas complexidades dos relacionamentos familiares ou pelo vazio extremo de nao a termos como base de apoio.

Em suma, estas quatro semanas foram muito boas para mim. Terei isto durante os proximos 2 anos e tenho certeza que irei gostar muito mais de cada modulo que farei aqui. Demorei um pouco para introspectar minha situacao de estudante. Na primeira semana ainda estava pensando em trabalho, posicoes e questoes nao respondidas. Por isto foi uma semana mediana. Semana passada e esta tem sido bem diferentes. Estou mais focado, mais coeso quanto aos meus objetivos aqui e os pensamentos que preciso desenvolver. Estou mais alinhado com o proposito. Um alinhamento de dentro para fora, que permeia todos os meus pensamentos e esta me ajudando bastante a colocar as variaveis nos seus devidos lugares.

Estou feliz por ter feito isto. Estou melhor por ter me dado este tempo. Afinal, se existe alguma coisa boa em ficar mais velho eh que temos mais controle sobre ate onde podemos ir e quais sao nossos limites. E nestas tres semanas de curso, convivendo com pessoas do mundo inteiro, com professores espetaculares e conceitos que nunca tinha visto antes, ficou muito claro para mim que estou muito longe do meu limite e que posso ir para praticamente, qualquer lugar. E isto eh o que me deixa mais feliz.

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