Pego-me sempre pensando neste assunto. Por que precisamos de tantas coisas para nos sentirmos melhor ?
É fácil quando não se tem opção explicar como a falta de algo não causa dano ou infelicidade. Mas é um desafio, tendo a capacidade de ter tudo que se tem vontade, limitar-se por conta própria. Não entrar na onda do consumismo e da falta que as coisas podem vir a fazer. Sim, no sentido mais amplo possível.
Comprei um livro sobre isto que nunca terminei de ler, de um filósofo chamado Zygmunt Bauman, “Vida para Consumo”. Não sei exatamente porque parei de ler. Acho que quando começou a incomodar dei um jeito de me interessar por outra coisa. Fuga !
É um tema que apesar de estar em voga, é muito difícil sentar para debatê-lo com inteligência, bom senso e isenção. Afinal, o consumo sempre leva em consideração a posição social de cada um e os valores de cada pessoa. O que é importante para mim, não necessariamente é importante para você.
E cada um possui sua própria interpretação de frugalidade e excesso. Sempre vira uma conversa sobre gostos pessoais e opiniões e nunca algo isento de percepções financeiras, materiais e que de fato possa nos levar a algum lugar mais elevado.
Como dizem, a diferença de uma pessoa normal e de um filósofo, é que o segundo não teme a profundidade dos temas e por isto, chega a conlusões mais duras, intensas e possivelmente mais verdadeiras que os demais mortais. É mais ou menos isto, quando o assunto é consumismo.
Não é a toa que visivelmente as pessoas mais despreendidas costumam ser também as mais cultas, preparadas e com um nível de conhecimento da psiqué humana mais profundo do que a média. Também costumam ser aquelas pessoas que justamente por serem desprendidas, poucas vezes vivenciaram a experiência de poder ter o que quisessem.
A capacidade de aplicar as próprias regras e filosofias em si mesmo, na minha visão, é algo que diferencia os homens entre eles. Falar dos outros ou para outrem fazer isto ou aquilo, é fácil. Colocar-se a si mesmo no ambiente de privação forçada que a filosofia consumista tanto condena é algo bastante mais iluminador.
E é exatamente por isto que penso tanto neste tema. Não ter nada é fácil. É uma conjunção de abstenção material total, com uma certa incapacidade de viver em sociadade somados a uma certa irônia quanto a própria capacidade de ter muito dinheiro. Portanto, dizer que tal pessoa, que não tem onde cair morta, é uma pessoa desprendida materialmente é algo que pode não ser tão verdadeiro assim, pois afinal, que opção ela teria.
Agora, abrir mão dos benefícios gerados pelo dinheiro propositalmente, tendo uma estrada de possiblidades pela frente e mesmo assim, decidir por não ter, não fazer, não comprar, não obter, é algo que me chamaria bastante a atenção. Gostaria de aprender algo com pessoas com esta experiência.
Gostaria de conhecer pessoas com esta experiência que não sejam panfleteiras, vistam lençol vermelho e não usem isto para ganhar seu próprio sustento. Queria alguém real, de carne e osso, que usasse jeans e camiseta, que já tivesse passado por isto. Ou que tenha esta filosofia de vida.
Certamente tenho muito o que aprender com ela. Este tipo de pensamento já passou pela cabeça de vários filósofos. Além do citado acima, está na hora eu aprender mais sobre Epicuro.
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