sexta-feira, 16 de julho de 2010

A obsolecência do ser humano

Esta matéria abaixo saiu ontem no Caderno de Empresas do Valor Econômico. Pessoalmente, apesar de eu investir em um fundo quantitativo, acho difícil que decisões eletrônicas funcionem no longo prazo. São simplesmente variáveis demais, decisões demais e emoções demais ao mesmo tempo, que regem o mercado de ativos líquidos. Será que um sistema potente consegue se antecipar ?

Certamente é uma questão de tempo, disto não tenho dúvida. Talvez estes caras da Rebellion Research estejam dando um passo além. Existem muitas verdades neste texto.

A principal é que a evolução da capacidade de processamento dos computadores anda bem mais rápido que a evolução do cérebro humano. Verdade incontestável. Vale notar que capacidade de processamento não é inteligência.

Não é porque vc consegue analisar 8 mihões de variáveis ao mesmo tempo que sua decisão ao final do processo será a mais correta. Nem só de decisões racionais vivem as empresas. Nem só de somas e subtrações se sustentam decisões importantes.

É um longo assunto. Adoraria investir em um fundo como este. Só para testar. Black box, eu sei. Mas será meu próximo pit stop em NY. Certamente.

Inteligência artificial chega a Wall Street

Scott Patterson, The Wall Street Journal
15/07/2010

Michael Rubenstein/Wall Street Journal

Foto Destaque

Jeremy Newton, Jonathan Sturges, Spencer Greenberg e Alexander Fleiss (da esquerda para a direita), da Rebellion Research: resultados consistentes

Wall Street é conhecida por não aprender com seus próprios erros. Talvez as máquinas possam se sair melhor.

Essa é a esperança de um número cada vez maior de investidores que estão recorrendo à ciência da inteligência artificial para tomar decisões de investimento.

Com a inteligência artificial (IA), os programadores não somente preparam seus computadores para tomar decisões em resposta a certos dados. Eles permitem que os sistemas aprendam com certas decisões e se adaptem. A maioria dos investidores que tenta usar a alternativa recorre à "aprendizagem de máquina", um segmento da inteligência artificial no qual um programa de computador analisa grandes grupos de dados e faz previsões sobre o futuro. Ela é usada por empresas de tecnologia como o Google para casar as buscas na internet com os resultados, e pela locadora de vídeo Netflix para prever quais filmes provavelmente serão alugados.

Um recém-chegado à corrida da IA em Wall Street é a Rebellion Research, uma pequena administradora de recursos de Nova York com um patrimônio de cerca de US$ 7 milhões que está usando um programa de aprendizagem de máquina para investir em ações. Administrado por um pequeno time de jovens gênios da matemática e da computação, na casa dos 20 anos, o fundo de hedge da Rebellion tem um histórico de resultados sólido, batendo o índice Standard & Poor's de 500 ações em uma média de 10% ao ano, depois das taxas, entre seu lançamento, em 2007, até junho passado, de acordo com pessoas próximas do fundo. Como muitos fundos de hedge, sua meta é ter resultados superiores ao desempenho do mercado, ano após ano.

"Está muito claro que os seres humanos não estão melhorando", diz Spencer Greenberg, de 27 anos, que é o cérebro por trás do sistema de IA da Rebellion. "Mas computadores e algoritmos estão sempre se tornando mais rápidos e mais robustos."

Comenta-se que alguns sofisticados fundos de hedge, como o Renaissance Technologies LLC, com sede em East Setauket, em Nova York, também usaram a inteligência artificial para investir. Mas, por anos, essas empresas foram a exceção. Algumas companhias que se aventuraram a usar a IA não acreditam muito que ela esteja, de alguma forma, próxima de funcionar.

A Rebellion faz parte uma nova geração de empresas que usam a aprendizagem de máquina para operar. O Cerebellum Capital, um fundo de hedge de San Francisco com patrimônio de US$ 10 milhões, começou a usar a aprendizagem de máquina em 2009. Um grupo de companhias que fazem transações de alta frequência, tais como a RGM Advisors LLC, de Austin, no Texas, e a Getco LLC, de Chicago, estão recorrendo à aprendizagem de máquina para ajudar seus sistemas de negociação eletrônica a comprar e vender ações de forma eficiente, segundo pessoas familiarizadas com as empresas.

Os programas são eficazes, dizem os proponentes, porque podem mastigar um grande volume de dados em um curto período de tempo, "aprender" o que funciona e ajustar rapidamente suas estratégias. Já a técnica quantitativa tradicional pode utilizar uma única estratégia ou uma combinação de estratégias de um só vez, mas não pode se mover entre elas ou modificá-las com base no que o programa determina que funciona melhor.

"Nenhum ser humano poderia fazer isso", diz Michael Kearns, professor de ciência da computação da Universidade da Pensilvânia que usou a IA para investimentos em empresas como o Lehman Brothers Holdings. "A sua cabeça explodiria."

A Rebellion lutou contra dificuldades para captar dinheiro, em parte porque desde a crise de crédito os investidores têm dúvidas sobre estratégias obscuras baseadas em matemática.

A empresa conseguiu atrair pelo menos um cético da abordagem quantitativa: Jean-Marie Eveillard, um conhecido investidor que recentemente aplicou várias centenas de milhares de dólares do seu próprio dinheiro na Rebellion. "Minha especialidade não é o investimento quantitativo", diz ele. "Mas acho que eles são investidores sérios, e estou impressionado com o fato de que não tenham alto giro de carteira (...) e não usem alavancagem."

Greenberg, da Rebellion, está bem familiarizado com o mundo dos investimentos. Seu pai, Glenn Greenberg, é um investidor de valor iconoclasta e gestor da Brave Warriors Advisors que recentemente se separou de seus sócios na Chieftain Capital Management.

O sucesso passado não significa que a Rebellion vai continuar a bater o mercado. Como em várias estratégias quantitativas, seu sistema pode parar de funcionar se os fundamentos do mercado mudarem de maneiras que o programa de computador, batizado de "Star", não conseguir processar.

O que faz o Star inteligente, diz Greenberg, é a habilidade de ajustar a estratégia com base na mudança da dinâmica do mercado e da economia como um todo. O programa não está casado a nenhuma estratégia singular de investimento. Sob certas condições, o fundo vai comprar ações baratas e em outras vai favorecer papéis cujas cotações estão subindo rapidamente - ou as duas coisas ao mesmo tempo.

Diferentemente dos fundos de alta frequência que usam a inteligência artificial para ajudar nas negociações rápidas, a Rebellion tende a segurar as ações por longos períodos - em média quatro meses, mas, em alguns casos, mais de dois anos. Ela também não vende ações a descoberto e não se alavanca, ou seja, não toma dinheiro emprestado para investir, algo que pode ampliar os ganhos mas também eleva os riscos.

O programa monitora cerca de 30 fatores que podem afetar o desempenho de uma ação, como a relação preço-lucro e as taxas de juros. Regularmente, o programa utiliza dados referentes a um período de mais de dez anos, assim como os últimos movimentos do mercado, para decidir comprar ou vender uma ação. Quando certas estratégias deixam de funcionar, o programa automaticamente incorpora essa informação, "aprende", e ajusta a carteira.

Por exemplo, ele pode detectar dados que indicam que empresas com uma baixa relação preço-lucro têm probabilidade de subir e comprar essas ações. Depois, se o programa descobrir que essa estratégia deve perder fôlego, a partir da mudança dos fatores que acompanha, ele vai se desfazer dessas ações e comprar outras que considere melhores.

Todas as manhãs, o Star recomenda uma lista de ações para compra e venda - muitas vezes ele não indica troca nenhuma. Um corretor faz as mudanças. A empresa diz que nunca discorda do programa, que é basicamente o mesmo desde o início da empresa, em 2007, com pequenos ajustes. A Rebellion normalmente tem em carteira de 60 a 70 ações por vez.

Greenberg começou a projetar o Star em meados de 2005, logo depois de se formar em engenharia na Universidade Columbia, de Nova York. Alexander Fleiss, amigo da escola secundária com formação em finanças e matemática, se uniu a ele, assim como Jonathan Sturges, um matemático que o ajudou a criar o programa de inteligência artificial.

Em janeiro de 2007, com um capital de US$ 2 milhões, o programa começou a escolher ações. Naquela época, o fundo passou a assumir posições defensivas, como ações de serviços públicos. A Rebellion ganhou 17% em 2007, em comparação com uma alta de 6,4% da Média Industrial Dow Jones, segundo pessoas próximas do fundo.

Ela manteve a estratégia defensiva durante quase todo o ano de 2008, com ações ligadas aos setores de ouro, petróleo e serviços públicos. Ainda assim, perdeu dinheiro como a maioria dos investidores, com queda de 26%, mas superando o índice Dow Jones, que teve desvalorização de 34%.

No começo de 2009, o Star começou a comprar ações surradas, como as de bancos e seguradoras, que se beneficiariam da recuperação econômica. "Ele ficou carregado em ações de valor", diz Fleiss, referindo-se ao programa de IA. O fundo acumulou ganhos de 41% em 2009, mais que o dobro da alta registrada pelo Dow Jones, de 19%.

A carteira atual do fundo é basicamente defensiva. Uma de suas maiores posições é em ações de empresas do setor de ouro, de acordo com pessoas ligadas ao fundo.

A estratégia defensiva a princípio preocupou Fleiss, que estava mais otimista. Mas a opção, até o momento, se provou inteligente. "Eu aprendi a não questionar a IA", diz.

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