domingo, 6 de setembro de 2009

Quando o porta-voz do hospício é um dos internos

O que leva uma pessoa quase-respeitada em seu meio, estudada, a se expor em um site da internet, no vídeo, semanalmente, só falando bobagens como se fossem caminhos a serem analisados ?

Depois do colapso de seu fundo durante a crise do ano passado, seu gestor, ME, “que antes era considerado por diversos distribuidores um gênio”, passou a aparecer semanalmente no programa de vídeo do Infomoney.

Não sei exatamente o que fazer em um programa destes pois não há assunto suficiente para ser explorado sobre investimento em empresas com tal sazonalidade. O negócio de se gerir recursos de longo prazo em ações é, em sua gênese, muito simples: comprar boas empresas a preços muito abaixo do que valem. Só isto. Disciplina e estudo resumem todo o resto.

ME, gestor e analista há muitos anos, está desafiando a inteligência dos seus ouvintes colocando uma quantidade incrível de bobagens na pauta de seu programa. Além de indicar somente as ações que possui em seu fundo, através de suas teses questionáveis. No começo, era algo que poderíamos chamar de colapso pos-traumático gerado pelo evento passado por seu fundo em 2008.

Durante a crise, sucumbiu frente ao mercado com diversos erros em cadeia, um atrás do outro, que o fato de ainda não ter fechado totalmente as portas é mais uma prova da irracionalidade dos investidores brasileiros e suas métricas de avaliação.

A saída dos investidores em 2008 fez com que a forma de rentabilizar o fundo fosse exposta. Durante alguns poucos anos ME usou o dinheiro aplicado em seu fundo para puxar os preços de algumas açoes de forma exagerada.

Os investidores que só vêem rentabilidade passada para investir em um fundo, viam o efeito das compras nos valores de cota e achavam que os papéis subiam por qualidade. Ledo engano. Todo o dinheiro captado ia para puxar os preços das ações e segurar o fundo das quedas momentâneas. Até a crise.

Os aportes cessaram, os resgates se iniciaram e de repente a força vendedora foi maior do que os recursos disponíveis para sustentar os preços das ações. O resto, todos já sabem ….

Veio um pedido de fechamento do fundo, distribuidores furiosos, uma comunicação péssima da empresa que culminou em uma assembléia histórica, marcada pela falta de postura, insegurança e muitas bobagens em cadeia acontecendo. Até que o prazo de resgate foi mudado para 90 dias depois de 6 meses de lock up – como uma forma de salvar o “insalvável”.

O gran finale foi que os 90 dias aprovados para resgate foi uma quase-fraude contra os clientes, nunca antes usada no mercado financeiro da forma como fora feita e descoberta tardiamente pelos clientes: 90 dias úteis para resgate e não corridos, o que dá mais de 5 meses entre o pedido de resgate e o recebimento dos recursos. O pouco de integridade que sobrava foi pulverizada.

Este mesmo senhor hoje está na Infomoney falando sobre análise de empresas e ações escolhidas através dos signos dos investidores ou escolhidas tendo como tema os heróis da Marvel, como Iron Man e o Quarteto Fantástico.

Sinceramente, na boa, acho que este cara surtou. Seus pilares deram uma chacoalhada e como não tem muito mais a perder, também liberou suas travas morais e resolveu falar o que tem vontade. E não há nada nem ninguém que possa pará-lo.

Mais uma vez a mídia prova que não ouve quem está certo mas sim, que está disposto a aparecer. Lamentável.

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