terça-feira, 20 de julho de 2010

Intuição

Costumo seguir minha intuição. De forma geral, é claro, quando existem decisões onde a parte que não conhecemos é maior do que a que sabemos.

Deliberadamente em algumas ocasiões não sigo minha intuição. E a compra do terreno no Haras foi uma destas. Olhando pata trás todos os pontos se conectam perfeitamente e me vejo caindo como um pato em uma emboscada feita de madeira e migalhas de pão. Uma emboscada tosca, feita por um índio xavante que ressurgiu das cinzas no mundo moderno, com seu tacape em punho aterrorizando os desatentos que andam desarmados.

Desde o início, quando li o contrato percebi que algo não estava sendo dito. Termos técnicos e elementos vagos colocados lá propositalmente para iludir, confundir e embaçar a visão. Os pontos que vi fora mudados. Mas a questão de serem mudados já é um indício. Um forte indício de que foram moralmente pegos, e mesmo assim, mantive-me firme na minha vontade contra minha intuição.

Depois a ladeira somente colocou-se a minha frente cada vez mais íngreme. Algumas semanas depois do contrato assinado, não podia mais andar a cavalo. Meu filho ficou desconsado. Fui reclamar, mas não estava no contrato que haveria cavalo !

Mais algumas semanas, e os preços da pousada foram remarcados para cima. Sendo que antes, era um valor simbólico e ainda antes, para quem comprava o lote, podia usar sem pagar. Fui reclamar, mas o uso da pousada não estava definido no contrato. Fui de boa fé, achando que as regras tácitas eram parte do negócio. Descobri que não eram.

Mais alguns meses e não havia mais vagas para passarmos os fins de semana. Ligávamos com 2 meses de antecedência e nunca tinha vagas na pousada. Ele levava seus amigos, família e pseudo-interessados no lotes … até fotógrafos se instalaram lá para fazer fotos de campanhas de marketing. Fui reclamar, mas mais uma vez, não havia no contrato a determinação de que quem compra um lote teria preferência para usar a pousada.

Mais algumas semanas e para a mesma pousada foi dado um título que ninguém que havia comprado os lotes havia aprovado. Fui pedir satisfação e a resposta foi que como só haviam sido vendidos 40% dos lotes, 60% eram ainda da Associação e por isto as assembléias eram pro forma, pois aprovariam tudo que tivessem vontade. Assim, na minha cara. Sem vergonha, sem respeito ao cliente, ao consumidor. Claro, nada no contrato era dito sobre o quórum de detentores de lote, que poderia ser qualificado para algumas decisões. Não peguei esta.

Senti-me traído, enganado. Fui usurpado do meu direito de consumidor, pagante por um produto e um serviço que aos poucos foram sendo retirados de mim por não estarem em contrato. A vida é assim ? Todos são deste jeito ? Claro que não. Imagine se em qualquer contrato precisássemos colocar todos os potenciais problemas, restrições, regras e faltas de ética e caráter potenciais ? Não haveriam negócios que ficassem de pé.

Lembro do fantástico filme do Batman contra o Coringa, O Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan, inclusive já comentado neste blog. No filme ficou bem claro porque o Coringa sempre vence, ou sempre tenderá a vender: o mal é infinito, sem regras, sem ética, sem restrições. É impossível lutar honestamente contra ele e ganhar. O bem tem escrúpulos e limites. O bem pára e o mal, é uma força infinita em direção ao seu objetivo, qualquer ele que seja.

Não sei ainda como irei agir. Estou seguindo conselhos de gente mais experiente do que eu. Vamos ver. Sou paciente e muito persistente. Vamos ver.

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