Posso dizer sem sombra de dúvida que este é o melhor filme que vi desde o início de 2008.
Um filme tremendamente bem amarrado, bem escrito e um tema muito adulto. E atual. Ainda.
Sam Mendes é um dos diretores geniais que está no nível de Christopher Nolan e David Fincher. Apesar de ambientar-se entre os anos 50 e 60 nos EUA, a capacidade dos atores, ambos, de se identificarem com o tema é impressionante.
Kate Winslet, que está entrando na minha lista de atrizes quase perfeitas, é a esposa insatisfeita que não quer ver a vida passar por entre os dedos e Leonardo di Caprio, o marido típico dos ano 60, com um emprego que mais parece uma linha de montagem, que o faz tremendamente infeliz por fora, mas acomodado, e até feliz, por dentro.
Sua vida em casa é tão monótona quanto o emprego e ele tenta se mostrar altivo traindo a esposa com colegas de trabalho. Tudo, claro, na surdina. A cena em que ele se aproxima de uma secretária para ter um caso é fascinante. Ele se vende como "o cara" .... bem típico dos infelizes burocratas que precisam ser "algo em algum momento" para não se matarem.
April, sua esposa, é exatamente o oposto. Atriz frustrada, a vida dela, como hoje em dia em muitas famílias, é basicamente ser uma inútil em termos intelectuais (o que certamente estava fora dos planos), pois somente cuida da casa, do marido e dos filhos. Sem a menor empolgação por nada (também para quê ? não sai de casa, não viaja, nao lê nada !!!) e ainda forçada a levar a vida que seu marido, que traz dinheiro para casa, a permite (e a lembra disto constatemente).
O filme é um duelo entre a rotina e a acomodação contra a possível felicidade de se ter uma vida mais solta, sem rédeas sociais.
Bem atual este tema .... pois sinceramente, e sendo mais pessoal do que gostaria, vivi um pouco disto na minha casa. Talvez até por isto tenha gostado tanto do filme. Além disso, por causa desta experiência (em escala menor talvez, do que o filme), hoje em dia faço uma força ímpar para não deixar que o mesmo aconteça com a minha família. Também esta identificação de princípios com relação a não acomodação da vida certamente me levou a gostar dele ainda mais.
Incrivelmente, apesar de ver meus pais no casal do filme, me vi como April, a esposa, enfadada pela repetição, pela ignorância forçada, pela falta de expectativas e pelo vazio de viver em um lugar onde todos pensam da mesma forma e se identificam com isto (pelo menos é o que demonstram): "the emptyness", como dito brilhantemente no filme.
Como se fosse socialmente exigido ter uma rotina organizada, correta, careta, previsível ou "settled". Nada que eu mais odeie e que me deixe mais de mal humor. A vida empacotada. A hora que ela leva o lixo para fora e vê exatamente a mesma cena em todas as casas da rua é desesperadora. Dá para sentir isto pelo semblante dela. Dá para entender ali que é quase uma loucura coletiva.
O desfecho é excelente. Nada americano e muito real. Algo bem factível de se acontecer em uma situação como a que o casal está vivendo. April tem suas aspirações sufocada pelo marido, pelas obrigações domésticas e pela sociedade em que está inserida. Aos poucos vemos que seu oxígênio está acabando e mesmo fazendo uma força enorme para sobrevivier e se adaptar, algumas coisas na vida são inevitáveis. É só uma questão de tempo.
Saí bastante contente de ter visto este filme e será um dos que vai entrar em minha coleção de DVD´s. Será visto outras vezes. Ah ! Nem falei que está concorrendo ao Oscar. Não sei quais os outros filmes, mas vão precisar ser muuuito bons para bater este.
"O coletivo é conservador e mais ainda, consolador, prepara todos para arriscar pouco e conformar-se com o obtido."
My Dear Editor
fevereiro/2009
Ainda preciso falar sobre O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher (uma obra-prima), Sim senhor, do Jim Carey e um mais antigo que passou batido, mas que merece comentários: Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen.
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