domingo, 6 de julho de 2008

O pseudo-drama dos gestores independentes

Semana passada na Caderno EU& do Valor Econômico saiu uma matéria interessante sobre a situação dos gestores independentes com esta crise que estamos vivendo. Uma das fontes da matéria fui eu, que passei uns bons 40 minutos falando com o jornalista.

Nada do que disse foi colocado na matéria. Acho que ele queria ouvir algo mais sangrento tipo Cidade Alerta, ou uma fofoca qualquer sobre a situação péssima que alguém poderia estar. Nada disto eu falei. Primeiro porque acho que a situação dos gestores independentes não me parece tão catastrófica quanto pensam (apesar de séria e merecedora de uma atenção especial), segundo, porque não iria perder meu tempo fazendo fofoca de revista Caras para ser colocada na capa do Valor Econômico.

O assunto em si é importate, pois muito do que acontece hoje decorre da postura dos próprios gestores com relação a como se relacionam com suas empreas e não somente com seus fundos. A crise pela qual estamos passsando, cuja origem certamente tem raízes internacionais, tem uma série de razões locais. Algumas delas bem abaixo do nosso nariz e que poderiam ser melhor discutidas; inclusive pela mídia impressa, ao invés de ficar procurando fofocas de bastidor.

Os grandes responsáveis pela queda de patrimônio líquido dos fundos são os grandes bancos. Seus níveis de alocação em alguns gestores independentes é enorme, maior do que o razoável. Primeiro porque a quantidade de recursos que possuem para alocar é enorme e eles não têm capacidade de alocar com qualidade toda quantidade de recursos de captam, segundo, porque como gestores de fundos e não de empresas, todo e qualquer dinheiro é aceito pelos fundos de independentes. Sem uma análise mais minuciosa sobre a qualidade de alocação, aderência à estratégia e mesmo, se o perfil do investidor está correto. Se pensarmos que gestores europeus e americanos possuem históricos de 30, 40 anos, percebe-se que por aqui ainda precisamos melhorar muito no quesito qualidade versus perenidade de fundos, gestores e alocadores.

Discorrer sobre a culpa dos gestores de fundos pelo que acontece com eles é a mais natural e óbvia das críticas. Mas não podemos eliminar a responsabilidade dos bancos que, pelo seu volume monstruoso deviam ser melhor controlados. Nada de mais regulamentação. Não é isto que estou falando. Minha questão é sobre imposição de limites, travas e perídos de resgates diferenciados para este tipo de investidor que vêm como uma betonoeira em cima de fundos pequenos e os quebram depois de 3 meses de maus resultados.

Nesta questão específica, uma ajuda da CVM sim seria importante. Da forma como os fundos são estruturados hoje no Brasil não é possível haver classes de cotas como existem nos fundos offshore. As classes de cotas permitem que investidores com perfis diferentes tenham tratamento diferente com relação a sua alocação nos fundos. Sob o manto de que todos os investidores não podem ter tratamento diferenciado frente aos fundos, esconde-se a enorme ironia marxista de que todos de fato são iguais.

Bancos não são investidores iguais a pessoas físicas de alta renda. Sem considerar os volumes de alocação, as diferenças são tão grandes que é quase criminoso a CVM exigir que ambos sejam tratados de forma equânime. Começando pelo forma de alocação, via distribuidor onde não existe sequer a ligação pessoal com o gestor. A mais séria entretanto é o latente conflito de interesse que existe entre bancos, que são tomadores-emprestadores de dinheiro e gestores, que também tomam recursos mas para aplicar no mercado de capitais.

O conflito toma forma quando acontece o que estamos vendo hoje no mercado. Bancos grandes para poderem arcar com suas demandas por mais e mais crédito aumentam as taxas de seus CDB´s, estimulando seus clientes a tirar recursos dos fundos para comprar tais títulos. O gestor independente fica na mão do banco esperando para ver quando ele vai puxar a corda. SE para este tipo de cliente, o prazo de resgate fosse maior, haveria a chance de o banco encontrar outras alternativas antes de resgatar os recursos.

Bem, este ano de 2008 é o ano da puxada.

Seria mais digno que os responsáveis por isto fossem mais diretos e verdadeiros quando falassem sobre esta dependência ao invés de darem entrevistas dizendo que somente "resolveram mudar o nivel de risco de suas carteiras", claro ... em benfício próprio. Seria bacana também que os jornais fizessem seu papel de ir a fundos nas questões que impactam a vida dos investidores comuns.

Os gestores podem não aceitar alocação de bancos em seus fundos ?
Os gestores podem ter fundos com prazos de resgate maiores. É este mesmo o problema ?
Como a criação de classes em fundos pode ajudar a melhorar esta situação ?
Os bancos são então os únicos vilões, que por uma ironia do destino, gestores independentes devem se submeter ?

É um assunto longo mas bastante profícuo. Volto a ele mais tarde.

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